Os outros não seriam os Outros sem nós. E nós certamente não
seríamos Nós sem os Outros. Tudo nos diz
respeito, apesar de fazermos uma força imensa para contrariar esta verdade.
Poderia algum de Nós viver sozinho? Nunca. Tendemos a achar
que sim? A toda a hora.
O humano é egoísta, mas se pensarmos bem, não somos feitos
para o ser. A nossa natureza é de partilha - Transmitimos a vida uns aos outros:
a nossa mãe e pai deram-nos a vida a nós.
Nós gostamos de dar a vida a outros – ter um namorado, um
amigo, um marido – partilhar com eles a nossa existência, dia-a-dia, palavras,
emoções.
Mostramos ideias. Escrevemos livros. Cantamos canções. E
nada disto é só para nós – fazemo-lo para os Outros. Senão os rascunhos não
saíam das gavetas, e as guitarras só davam som para fones, e os filmes não
davam no cinema, e não haviam palcos para dançar, e os microfones não existiam.
Tudo isto tem uma intenção: ser visto, sentido, vivido. Por Eles.
Até contamos segredos! Aquilo que é nosso, há sempre um
outro a quem gostamos de dar. ‘’guarda o MEU segredo’’, que é agora também
dele, é vosso. É dos dois, ou dos três, ou do número de pessoas a quem se conta
até que deixe de ser um segredo e passe a ser um discurso.
Damo-nos e recebemo-nos. Bocadinho a bocadinho. Com algumas
interferências e falhas de comunicação, mas o humano é feito de nada mais, nada
menos, que a interacção com o resto do mundo. Qual sangue, qual moléculas, qual
matéria de estrelas.
Eles, os Outros, são Nós. Nós, somos Eles. Não há um, há
uns. Muitos. Todos…
Mas, por algum motivo, não gostamos de o admitir.
Continuamos a fechar-nos em caixas pequeninas, com fechadura. Mas nunca a
trancamos. Porque, lá no fundo, escondidos no fundo da nossa caixinha, ansiamos
para que alguém abra a porta.
https://www.youtube.com/watch?v=pis6K0nFYNo&feature=kp
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