Antiguidades recentes

O cheiro a hospital. O quarto com pessoas a menos, o nosso canto isolava-nos na nossa privacidade de meia palavra e cortinas corridas. 

Após uma chamada assustadora e muita pressa a chegarmos aqui, depara-mo-nos com um cenário de esperas. A questão: minutos, horas, dias. Nada parece certo, apenas de que algo não está correcto. Apenas a certeza de toda a parafernalha que complementa o seu corpo: uma sonda para a ‘’comida’’ – qualquer coisa como uma sopa de vitaminas – um tubo de morfina, um do soro, mais tantos que me escapam e o fulcral, o que lhe dá oxigénio, enquanto o seu corpo tem força para o inspirar.

Não nos ouve, não nos vê, talvez nos sinta… mas estamos todos aqui. 

É uma espécie de Coma. É uma espécie de Dor.

Procuro e procuro e não pareço encontrar um propósito para isto. Mas há coisas que não temos de saber. Que só se resolvem na nossa cabeça, só se jogam de forma a fazer sentido muito mais tarde.

Os pulmões agarram o ar que lhes é injectado, mas não trazem esperança. Não é como se fosse melhorar.

As horas passam mas nenhum de nós quer ir embora. O inevitável é muito menos assustador na teórica. Nunca fui apologista disto. Penso sempre ‘’que vida é esta?’’, porque não é sua. Pouco é o que a prende a este mundo. Até agora a situação parece sempre ter encontrado maneira de piorar, e estagnar assim por bocadinhos. É sempre a descer, eu sei. Mas isso não significa que solte os travões e a largue ribanceira abaixo.

São estas as coisas que me deixam frustrada. Isto não é nada. A única coisa que isto é, é nada. Não é vida, nem é morte. Antes fosse.

Por vezes chegamos a um ponto por onde não temos mais por onde lutar. Resta-nos pousar a espada, aceitar, deitar a cabeça e admitir a vitória que é saber sair derrotado. Sermos corajosos para nos deixar desistir, quando já não há nada a ganhar. Saborear o momento, mesmo antes dos joelhos tocarem no chão. E depois… cair.